Em um ano marcado por lançamentos aguardados e turnês grandiosas, o mundo da música também foi atravessado por controvérsias que extrapolaram os palcos e dominaram o debate público (Foto: Divulgação / Universal Music).
Em 2025, declarações incendiárias, gestos controversos e episódios fora do roteiro colocaram artistas no centro de disputas políticas, morais e culturais, mostrando como a música segue sendo um território de tensão, exposição e confronto — tanto quanto de entretenimento.
Em setembro de 2025, a polícia de Los Angeles anunciou que os restos mortais de uma adolescente, Celeste Rivas, de 15 anos, foram encontrados no porta-malas de um Tesla registrado no nome do cantor D4vd (David Anthony Burke) após o carro emitir um forte odor enquanto estava estacionado em um pátio de reboque em Hollywood, na Califórnia — desencadeando uma investigação policial que rapidamente virou um dos maiores escândalos do ano no mundo da música.
Até agora, as autoridades consideram D4vd um suspeito no caso, embora ele não tenha sido formalmente acusado de homicídio e afirme estar cooperando com as investigações, que continuam em andamento.
A repercussão explodiu quando surgiram detalhes perturbadores nas redes e na imprensa, como o fato de Celeste e D4vd terem tatuagens idênticas no dedo indicador — algo que alimentou especulações sobre uma relação próxima entre os dois antes da morte dela — e conversas nas redes em que internautas apontaram coincidências entre letras e títulos de músicas do artista e o nome da jovem.
Também circulou uma demo vazada supostamente intitulada “Celeste”, com menções ao nome da adolescente, e muitos usuários online começaram a interpretar temas de violência ou obsessão nas letras de faixas como “Romantic Homicide".
O caso deu à internet um território fértil para teorias, debates e reações intensas: além das especulações sobre possíveis mensagens ocultas nas músicas de D4vd, investigadores realizaram buscas na casa do cantor, apreendendo computadores e celulares para análise, e houve até relatos de itens controversos encontrados no local, como um incinerador de alta temperatura não utilizado que levantou novas dúvidas sobre o contexto da investigação.
As investigações seguem em andamento, fazendo com que D4vd anunciasse o cancelamento de shows futuros.
O julgamento de Sean "Diddy" Combs foi um dos mais acompanhados do ano no mundo da música e da justiça, gerando também bastante polêmica.
Em julho de 2025, um júri federal em Nova York o absolveu das acusações mais graves, como tráfico sexual e crime de organização criminosa, que poderiam levá-lo a uma prisão perpétua, mas o condenou em duas acusações de transporte de pessoas para fins de prostituição, depois de um processo de quase dois meses com testemunhos sobre abuso, coerção e exploração envolvendo ex-parceiras e trabalhadores sexuais.
Ao longo do processo, Diddy negou repetidamente as acusações, sua defesa argumentou que ele havia sido alvo de uma “perseguição judicial injusta” e pediu uma sentença reduzida, enquanto os promotores pressionaram por uma pena mais longa, citando o padrão de controle e violência que teria sido exibido ao longo dos anos.
Em cartas e declarações no tribunal, Diddy se disse “humilhado e destruído” e pediu clemência, reconhecendo seus erros, enquanto seus filhos também fizeram apelos emocionais por uma chance de redenção.
Em 3 de outubro de 2025, o juiz determinou a sentença: 50 meses (quatro anos e dois meses) de prisão federal, com crédito pelo tempo já cumprido desde sua prisão em setembro de 2024, e uma multa de US$ 500 mil, além de cinco anos de supervisão após a soltura — o que deve resultar em cerca de três anos adicionais atrás das grades para o magnata musical.
Embora a pena tenha sido menor do que os promotores pediam (mais de 11 anos), a decisão reforçou que abusos e exploração sexual não seriam tolerados, marcando um momento de responsabilidade legal para uma das figuras mais influentes do hip-hop.
A controvérsia começou no contexto de uma rivalidade pública entre Drake e Kendrick Lamar, marcada por uma série de diss tracks trocadas entre os dois rappers ao longo de 2024.
A faísca final foi a música de Lamar “Not Like Us”, uma resposta contundente ao conflito e que acabou alcançando enorme sucesso de público e crítica, inclusive batendo recordes de streaming e ganhando destaque cultural no hip-hop contemporâneo.
Insatisfeito com o conteúdo e as repercussões da faixa, Drake abriu um processo de difamação contra sua própria gravadora, a Universal Music Group, alegando que a UMG havia aprovado, promovido e até (segundo a acusação inicial) manipulado a distribuição de “Not Like Us” de forma a inflacionar sua popularidade e, consequentemente, prejudicar sua reputação.
O processo afirmava que a gravadora sabia que a letra continha "alegações falsas e explosivas" que atingiram diretamente a imagem de Drake, entre elas, a frase que acusa o canadense de ser pedófilo.
Em resposta, a UMG tentou a rejeição do processo, afirmando que “Not Like Us” e outras respostas no mundo do rap eram expressões artísticas e opinões protegidas pela Constituição, não declarações factuais difamatórias.
Um juiz federal em Nova York acabou desconsiderando o caso por entender que as declarações em questão configuravam opinião e hipérbole retórica, e não difamação acionável, o que foi um duro golpe para a ação de Drake — que já anunciou que pretende recorrer da decisão.
A disputa entre Murilo Huff e Dona Ruth Moreira, mãe de Marília Mendonça, pela guarda do filho, Léo, foi uma das maiores polêmicas familiares do ano no mundo sertanejo.
Após a morte de Marília em 2021, Léo, hoje com 5 anos, ficou sob os cuidados da avó materna em regime de guarda compartilhada.
Em junho de 2025, Murilo entrou com um pedido de guarda unilateral alegando motivos graves relacionados ao bem-estar do filho, o que deu início a uma batalha judicial marcada por trocas de acusações e manifestações públicas das duas partes.
Na audiência no Fórum Cível de Goiânia, o juiz concedeu a guarda provisória — e depois total — de Léo a Murilo Huff, levando em conta provas que, segundo a decisão, apontavam negligência e alienação parental por parte de Dona Ruth.
A sentença mencionou que a avó teria omitido informações importantes sobre a saúde da criança, que vive com diabetes tipo 1, instruindo funcionários a esconderem medicamentos e relatórios médicos do pai, comprometendo a cooperação parental.
Por conta disso, a guarda passou a ser exclusiva de Murilo, com visitas quinzenais autorizadas à avó.
O episódio provocou forte comoção e repercussão nas redes sociais, com Dona Ruth falando pela primeira vez após a decisão, dizendo que o conflito a fez “reviver o luto” pela perda da filha, Marília Mendonça, e lamentando o impacto na criança.
Enquanto isso, Murilo afirmou que tentou um acordo amigável antes de recorrer à Justiça e rebateu acusações de falta de pagamento de pensão, apresentando comprovantes de gastos mensais com o filho.
No show Back to the Beginning, que marcou a despedida de Ozzy Osbourne e do Black Sabbath em Birmingham, David Draiman, vocalista do Disturbed, foi recebido com vaias de parte da plateia ao subir ao palco como convidado para homenagear a banda com covers clássicos.
A reação negativa não foi pela performance em si, mas amplamente atribuída ao posicionamento público de Draiman em relação à guerra em Gaza, especialmente após ele ter sido fotografado autografando mísseis israelenses em julho de 2024.
A repercussão se estendeu além do evento: autoridades na Bélgica chegaram a cancelar um show do Disturbed em Vorst devido à expectativa de protestos pró-Palestina motivados exatamente pela imagem do vocalista assinando armamentos, com grupos organizando manifestações pacíficas nas imediações do local.
Draiman respondeu às vaias e ao cancelamento insistindo que sua presença tinha como único objetivo homenagear seus ídolos do metal, rejeitando a ideia de que sua música deva ser definida por posições políticas e acusando os críticos de incitar ódio — inclusive rotulando parte da reação como antissemita, uma interpretação contestada por observadores que apontam o descontentamento como resultante de suas ações políticas e não de sua identidade religiosa.
O incidente se transformou em um dos episódios mais debatidos do ano no rock justamente por mostrar como artistas podem enfrentar consequências diretas por suas posturas fora do palco, especialmente quando estas se cruzam com conflitos internacionais intensamente polarizados.