Jessier Quirino
PĂĄgina inicial > J > Jessier Quirino > Parafuso de Cabo de Serrote

Parafuso de Cabo de Serrote

Jessier Quirino


Tem uma placa de Fanta encardida
A bodega da rua enladeirada
Meia dĂșzia de portas arqueadas
E uma grande ingazeira na esquina
A ladeira pra frente se declina
E a calçada vai reta nivelada
Forma palmos de altura de calçada
Que nos dias de feira o bodegueiro
Faz comércio rasteiro e barateiro
Num assoalho de lona amarelada.

Se espalha uma colcha de mangalho:
É cabestro, Ă© cangalha e Ă© peixeira
Urupema, pilĂŁo, desnatadeira
Candeeiro, cabaço e armador
Enxadeco, fueiro, e amolador
Alpercata, chicote e landuĂĄ
Arataca, bisaco e alguidar
Pé de cabra, chocalho e dobradiça
Se olhar duma vez då uma doidiça
Que Ă© capaz do matuto se endoidar.

É bodega pequena cor de gis
Sortimento surtindo grande efeito
Meia dĂșzia de frascos de confeito
Carrossel de açĂșcar dos guris
Querosene se encontra nos barris
Onde a gata amamenta a gataiada
Sacaria de boca arregaçada
Gargarejo de milhos e farelos
Dois ou trĂȘs tamboretes em flagelo
Pro conforto de toda freguesada.

No balcĂŁo de madeira descascada
Duas torres de vidro sĂŁo vitrines
A de cĂĄ mais parece um magazine
Com perfume e cartelas de Gillete
Brilhantina safada, canivete
Sabonete, batom... tudo entrempado
Filizolla balança bem ao lado
Seus dois pratos com pesos reluzentes
DĂĄ justeza de peso a toda gente
Convencendo o freguĂȘs desconfiado.

A Segunda vitrine Ă© de pĂŁo doce
É tareco, siquilho e cocorote
Broa, solda, bolacha de pacote
Bolo fofo e jaĂș esfarofado
Um porrete serrado e lapidado
Faz o peso prum março de papel
Se embrulha de tudo a granel
E por dentro se encontra uma gaveta
Donde desembainha-se a caderneta
Do freguĂȘs pagador e mais fiel.

Prateleiras sĂŁo tĂĄbuas enjanbradas
Com um caibro servindo de escora
Tem também não sei qual Nossa Senhora
Com um jarrinho de louça bem do lado
Um trapézio de flandres areados
Um jirau com manteiga de latĂŁo
Encostado ao lado do balcĂŁo
Um caneiro embicando uma lapada
Passa as costas da mão pelas beiçadas
Se apruma e sai dando trupicĂŁo.

Tem cabides de copos pendurados
E um curral de cachaça e de conhaque
Logo ao lado se vĂȘ carne de charque
Tira gosto dos goles caneados
PelotÔes de garrafas bem fardados
Nas paredes e dentro dos caixotes
Tem rodilha de fumo dando um bote
E um trinchete enfiado num sabĂŁo
Bodegueiro despacha a um artesĂŁo
Parafuso de cabo de serrote.
Compositor: Jessier Quirino

Encontrou algum erro? Envie uma correção >

Compartilhe
esta mĂșsica

Ouça estaçÔes relacionadas a Jessier Quirino no Vagalume.FM
ARTISTAS RELACIONADOS

Mais tocadas de Jessier Quirino

ESTAÇÕES