Eu vi o céu à meia-noite Se avermelhando num clarão Como incêndio anunciado No apocalipse de São João Porém não era nada disso Era um Curisco, era um Lampião
Eu vi um risco nos espaços Era o revôo do sanhaçu Eu vi o dia amanhecendo No ronco do maracatu Não era lança de São Jorge Era o espinho do mandacaru
Ví um profeta conduzindo Pros arraiais as multidões Pra construir um chão sagrado Com espingardas e facões Não foi Moisés na Palestina Foi Conselheiro andando nos sertões
Eu vi um som na escadaria Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó Não era o eco das trombetas De Josué em Jericó Era um fole de oito baixos A tocar numa noite de forró
Vi um magrelo amarelado Passando a perna no patrão Não foi ninguém da Inglaterra Nem de Paris, nem do Japão Era o Pedro Malazarte Era João Grilo e era Cancão
Eu vi um som ao meio-dia No meio do chão do Ceará Não era o coro dos Arcanjos Nem era a voz de Jeová Era uma cascavel armando o bote Balançando o maracá
Vi uma mão fazer do barro Um homem forte Um homem nu Um homem branco como eu Um homem preto como tu Porém não foi a mão de Deus Foi Vitalino de Caruaru
Compositor: Braulio Fernandes Tavares Neto (ABRAMUS)Editor: Universal Music Publishing Mgb Brasil Ltda (UBC)Publicado em 1999 (08/Dez)ECAD verificado obra #56547 e fonograma #929746 em 11/Abr/2024